Liberdade (de expressão) não é libertinagem e punição não é censura.

Fonte: autoral.

De forma recorrente o debate da liberdade de expressão submerge sem trazer consigo a profundidade do tema. Se faz necessário que sejamos radicais, então vamos investigar um pouquinho algumas linhas tênues que separam os equívocos acerca da discussão. Como é de costume, esse texto fará um uso excessivo do pai das pessoas inteligentes: o Dicionário e o estudo das palavras.

Primeiro vamos resgatar, neste contexto, em sua base canônica, o que é censura.

  • censura
    1. ação ou efeito de censurar.
    2. análise, feita por censor, de trabalhos artísticos, informativos etc, com base em critérios morais ou políticos, para julgar a conveniência de sua liberação à exibição pública, publicação ou divulgação.

Agora o que é punição.
  • punição
    1. qualquer forma de castigo que se impõe a alguém por falta cometida.
    2. pena determinada por um juiz a quem cometeu um crime.
Imediatamente percebe-se que existe um sutil fator temporal que diferencia as duas situações: o ato de censurar implica que houve um planejamento ANTERIOR para contenção do conteúdo. Já punir é uma ação cometida APÓS um dado ato. Ou seja: se em plena pandemia um imbecil bosteja inverdades sobre a vacina e a inverdade foi rechaçada e excluída em qualquer rede social, não houve censura, houve punição pelo uso indevido da liberdade de expressão. Ué, como assim?

Ângulos Alternos


Como uma marca feita num instante,
ao bel prazer, memória cintilante,
provém da dor, do riso e do fraterno.

Quando ao nascer, respira sossegado.
Com estranheza em colo aconchegado,
expande assim, hormônios ao materno.

Vem da infância o cheiro e o sabor,
do quente ao frio, do límpido pudor,
do atrevido, tímido e etéreo.

E as sinapses correm a flutuar.
O inconsciente paira a retumbar
na autoridade do impor paterno.

Enquanto o olhar do outro é hesitante,
e faz brotar o ego ignorante,
recalca a dor e a guarda no interno.

Do doce ao fel, bagaço que mói cana,
melaço azedo em prova de gincana;
do ser criança, inóspito inverno.

Na adolescência, gritas transmutado.
O adultecer que frusta o recrutado
do anti-sistema, vulgo pós-moderno.

O que se tem é um sonho delirado,
de se importar com o externo inconformado,
que quer perpétuo o arquétipo no inferno.

Conflituoso? voltas ao passado!
E das memórias brotam os pecados...
e a punição destrói o confraterno.

Viaja ao tempo, a luz da nostalgia,
ao recordar lembrança em letargia,
estando a ela, tal qual subalterno.

O recordar - com o tempo - faz constante.
Ao oscilar no agora e no passante,
o ontem e o hoje: ângulos alternos.

Até que um sopro mata a ignorância,
e o que era turvo, torna-se esperança
de refazer a vida em tom superno.

Muda o olhar, o ouvir e a linguagem.
As cicatrizes tornam tatuagens
com forma em riso, flores em aderno.

O Eu se torna firme e cativante
Ao maturar, enxerga-se perante
do seu caminho, vívido e eterno.

A mecânica das palavras.

As palavras são como engrenagens que na medida que são inseridas na máquina da vida, com suas magnitudes e densidades, fazem girar esta necessidade louca de se comunicar.


Precisamos falar.
Precisamos falar, escrever, botar pra fora.