Aniversário e os ciclos em função das reflexões pertinentes...

Quando li um texto que atribuem erroneamente ao Carlos Drummond de Andrade - como muitos textos que se popularizam pela internet - percebi que ainda assim o tal carrega um notável grau de contemplação com mensagens subliminares dignas de um razoável aprofundamento, segue o texto:

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente...

Para você, desejo o sonho realizado. O amor esperado. A esperança renovada. Para você, Desejo todas as cores desta vida. Todas as alegrias que puder sorrir. Todas as músicas que puder emocionar.

Para você neste novo ano, desejo que os amigos sejam mais cúmplices, que sua família esteja mais unida, que sua vida seja mais bem vivida.

Gostaria de lhe desejar tantas coisas... Mas nada seria suficiente... Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos. Desejos grandes... e que eles possam te mover a cada minuto, no rumo da sua FELICIDADE!

Existem alguns indícios que a reflexão, oriunda do inconsciente coletivo, pertinente ao ciclo que chamamos de "virada do ano", gira em torno de aspectos gerais da existência humana com uma certa influência semiótica da industrialização e, consequentemente da esperança exausta como um trabalhador em um trabalho deturpado em emprego, como condição da existência.

Adaptado de Pixabay.

Para além do "milagre" da renovação, tem-se uma perspectiva de sonho realizado, o amor esperado, transformados em metas, finitas, no particípio passado; pois quando realizado e esperado não se consumam em si, por si só, no dia a dia, como funções recursivas nelas próprias, com influência da esperança.

A coitada e exausta esperança é o esperado - também no particípio passado - que precisa se renovar e se torna uma mão-de-obra, um objeto finito, desta vida, limitada. Afinal, a utopia de uma sociedade justa - e portanto perfeita - é irrealizável, completamente fora do espectro da esperança industrializada.

Com pitadas daquela romantização da alegria que só se realiza com sorriso - excluindo a alegria irrestrita e arrebatadora que provoca o choro; e, claro: somente com as cores desta vida e as músicas que puderem emocionar, porque toda forma de arte que transcende a emoção e esta existência é desnecessária. Será?

Então, finalmente o texto expande a reflexão para amizades que tangenciam uma forma de aceitação, e portanto de amar, na cumplicidade de aceitar os defeitos que só uma verdadeira amizade carrega, assim como ressalta a relevância / importância da união familiar e, ainda na profundeza de um pires, uma vida mais vivida na coletividade (aleluia).

Encerra projetando desejos, "grandes", que movam para a tal felicidade-clichê por estar, mais uma vez, em um ponto, lugar, finito. Afastada da felicidade real, que se faz no trajeto, incompleta em si mesma, que depende da infelicidade para existir, do contraste, dos dias ruins, dos altos e baixos, das oscilações de humor, do incerto, da ansiedade, da falta de controle, da individuação, da limpeza dos nossos esgotos internos.

Como é quase impossível ressignificar e lutar contra a essência da exploração humana (o capitalismo) e suas influencias subliminares que se popularizam para completar as faltas que nos movem, proponho o aniversário (do ano, ou nosso) como data de um ciclo que remeta à uma reflexão interna, em função de reflexões pertinentes, profundas, intensas, que fujam da necessidade do champagne, da compra, do presente e até mesmo do tempo.

Reflexões em que a busca seja infinita em magnitude, direção e sentido. Não esteja em um ponto, um lugar, se faça em todas as dimensões, seja todos os campos vetoriais, em todos os corpos. Esteja em valores, conexões, sentido de vida, ocupações, existências; Esteja no legado interior, em restaurar, em perdoar, em renovar o íntimo, na autocrítica madura, no fazer alinhado ao discurso, no exercício do amor próprio como propulsor do amor incondicional à humanidade - pois é impossível o inverso.

Que a busca esteja sempre em ciclos de funções complexas, não-lineares, caóticas e estáveis. Nas reflexões que realmente valham e que estejam na essência do eterno e do imortal.