Existem obras das quais acredito que servirão para descrever uma fotografia de almas (e vidas) da sociedade em um determinado período histórico.
Irmandade Brasmorra é uma dessas obras.
Ao mergulhar na amálgama da vida sofrida das pessoas que se encontravam em situação de extrema pobreza, em um país naturalmente rico e autossuficiente em produção de comida, a obra prova a sua suprema capacidade em transmutar ondas sonoras em agentes doutrinadores do amor e cria um registro antropológico de uma valiosa época.
As músicas Povo da Maré, Pobre Educação, Peixe Sem Rio ou Viver de Aparência são fotografias exumáveis do acontecimento de um tempo em que o capitalismo e todos os seus vícios reinam e estão, ainda e infelizmente, em ascensão.
Apesar do apelo quase religioso para a figura Cristo, de um purismo radical que tangencia o utópico - e nem por isso é necessariamente ruim - e do rechaçamento da força policial que de tão forte confunde a polícia com o próprio Estado, além de outras colocações um tanto quanto ingênuas (e tudo bem); Irmandade Brasmorra prospera em aceitar a essência do espírito ao invés da matéria, da sociedade unida como força motriz para um mundo melhor e da divisão de classes como uma possível consequência da desigualdade social. É uma obra maravilhosa, ouçam.