Minha análise do Ato de 02-06-2012 do Iguatemi - os preguiçosos não chegarão ao final.

O saldo foi positivo, ou seja, os pontos positivos superaram os negativos, porém, os negativos me incomodaram muito e talvez eu esteja no lugar errado com as pessoas erradas.



A ideia Anonymous, na minha concepção, é uma manobra para que a sociedade civil conheça e chegue à raiz do problema, sempre tentamos nos posicionar dessa forma, temos que ser coerentes com a ideia, mas não é isso que eu vejo ainda em alguns membros, e isso me incomoda.

Conseguimos dar um passo importantíssimo dentro da resolução e análise do problema de mobilidade urbana de Salvador, comentei até com alguns que aquilo era genial, usar o sistema contra o sistema, plantar a semente da mobilidade urbana no lugar que mais sofre com aquilo, lugar onde todo o trânsito de Salvador converge de propósito por culpa do interesse capitalista, e dali, nascer algo revolucionário.

Sinceramente eu viajei, vi no futuro o #Ocupa e Anons, acampando naquela praça, interagindo com o Dia do Basta, o CES (Comunidade dos Estudantes de Salvador), e quem mais fosse apartidário e comprometido, estudando e agindo estrategicamente de forma uníssona, seria lindo.

O ATO
O objetivo do ato foi:
1º - Aproveitar o contexto atual e alimentar a vontade que temos de protestar contra o descaso geral. (atraindo jovens e indignados em geral).
2º - Unificar movimentos, como o Dia do Basta, CES, #Ocupa e quem mais viesse.
3º - Conscientizar e cutucar a população, de forma eficaz, com argumentos e ideias novas (não somente pedindo a redução da tarifa) e com isso tentando sair do roteiro.
4 º - Ter o ‘Grupo de Estudos’ para conscientizar e provocar as pessoas atraídas, mostrar que rola muita coisa embaixo do tapete e convencer definitivamente que temos que sair do roteiro, isso é COMPLETAMENTE ESSENCIAL.

O ESTADO
Desde o início da passeata tinha um rapaz nos observando, o cumprimentei na frente do Iguatemi, quando fomos para a estação de transbordo, vieram a mim chamando atenção que ele estava nos seguindo, fui até ele (com cara de bom moço) e comecei o diálogo como quem não quer nada:
- Oi, tudo bom?
- Sim, tudo certo
- Você é segurança daqui? ...
Ele não esperava tamanha ousadia, ficou desconcertado e abriu o jogo:
- Sou da Polícia Militar, estou aqui pra acompanhar a manifestação, ver se vocês vão fazer alguma besteira, depois vou fazer o relatório, também estou aqui para proteger vocês de assaltos e coisas do tipo.
- Que ótimo! Fico muito feliz que o governo do estado tem tanta preocupação conosco, até agora a gente fez alguma besteira? Não né? Não se preocupe, o movimento é extremamente pacífico, só queremos alertar a população, nada mais que isso.
- Então, é isso, vou acompanhar vocês pra me certificar que tudo terminará bem...
- Fico muito feliz por isso! Muito obrigado mesmo, não se preocupe que tudo vai terminar ótimo!

Dei meia volta e comecei a raciocinar, quais seriam as verdadeiras intenções dele? Fiquei bastante preocupado, pois, se alguém dali fizesse alguma besteira todo mundo ia ser responsabilizado por aquilo, consequentemente eu, que estava mais visado por ter levado várias faixas, ter sido o primeiro a ficar na frente do Iguatemi caracterizado, dei um gás da porra pra aquilo tudo acontecer e rodaria como “líder” do grupo terrorista chamado Anonymous. Não tenho medo disso, ficaria detido, chamaria meu advogado, em dois dias estaria solto respondendo em liberdade. Provaria que não LIDERO NADA, porém, o problema é mais complexo.



A HORIZONTALIDADE
A ideia Anonymous é horizontal, não tem líder, todos somos iguais, eu acho ótimo, lindo, genial, foi isso que me atraiu de início, porém dentro daquela situação eu refutaria esse princípio em 1 minuto.
Assim que Marcos Musse, do Dia do Basta, trouxe o megafone (instrumento completamente essencial naquela circunstância), foi disponibilizado para qualquer um usar e falar o que viesse em mente, debater, opinar, enfim, usar de qualquer forma e pra qualquer fim, afinal, somos um movimento horizontal, não pode haver centralização de poder nem hierarquia.

O megafone rodou, participantes do Anon ficaram suprindo sua necessidade revolucionária com palavras de ordem e coisas que assustaram um pouco a população, a proposta não era essa, foi um pouco agressivo.

No final do ato, o megafone caiu na mão de um gremista estudantil do IFBA, com ideias primárias, superficiais que incitavam uma rebeldia sem causa bastante violenta e despropositada, tentando assim sugestionar, ou, persuadir os secundaristas mesmo após termos lido um texto demonstrando que aquele tipo de postura não cabia naquele momento.

Sinceramente o megafone cair em mãos confusas, mal intencionadas ou talvez, oportunistas, naquele momento, era preocupante, pois, qualquer ação desproporcional gerada pelo impulso que a massificação provoca, poderia manchar o objetivo e complicar as pessoas envolvidas.
Para mim, a horizontalidade tem que ter limites.

A UNIÃO
Fiquei extremamente feliz pela presença das pessoas que compõem o #Ocupa Salvador, tanto pelo que o movimento representa, quanto pelo conhecimento técnico e teórico destas. Também tem o “fator Dia do Basta”, pois, é sabido que o #Ocupa não gosta tanto da postura do Dia do Basta e por isso, os Anonymous não convidaram “oficialmente” para a participação e composição do manifesto, que também foi idealizado por integrantes do Dia do Basta.

A participação do #Ocupa no planejamento, teria sido de grande valor, como de fato foi quando alguns membros compartilharam ideias e ações, foi muito bom. O #Ocupa, pelo menos pra mim, é um movimento intelectualizado, de bastante teoria com práticas e ações diferenciadas, porém, não atrai o povo.

O Dia do Basta e o CES tiveram uma postura enérgica e comprometida chegando à população e passando a mensagem dos cartazes, fazendo barulho e provocando um buzinaço e o apoio da população, foi maravilhoso, com cartazes do tipo: “Se apoia o movimento, buzine”

Enquanto isso acontecia outra manifestação na paralela, essa por sua vez OPORTUNISTA e PARTIDÁRIA de carteirinha, que devido ao fiasco da pouca adesão populacional, alguns sugeriram a junção conosco, que foi recebida pelos organizadores como um xingamento, taxando os Anonymous como monstros. (relato de pessoas que participaram de lá), claro, somos monstros, somos apartidários. Mesmo assim, algumas pessoas saíram de lá e se juntaram a nós, não sei avaliar quem e se isso foi positivo ou negativo.

O GRUPO DE ESTUDO
Exatamente às 16:35, uma hora pra começar a anoitecer, pois, o sol nesta época do ano, começa a se por às 17:30, foi feita uma votação para decidir se faríamos o grupo de estudo naquele momento ou iríamos para a estação de transbordo, a maioria quis ir para a estação de transbordo, que para mim era um erro.

Tentei segregar! Pois o meu intuito e de alguns membros era de fazer o manifesto e ESTUDAR, assumo que queria sugar um pouco mais o conhecimento (entende-se como aprender) de membros como o Joaquim do #Ocupa e tive receio das pessoas se excederem por lá, se cansarem, ficasse tarde, ficassem por lá e voltassem pras suas casas pensando que o dever foi cumprido, pobre engano.

De todo modo, após essa minha reação, algumas pessoas se chocaram, nunca fui de segregar, mas naquele momento percebi que o povo não quer estudar NADA, não os culpo, pois, a maioria era de estudantes secundaristas com pouca experiência em ativismo e havia apoio de pessoas que considerei vaidosas, que talvez, queria usar daquilo para se promover, se aparecer, se candidatar futuramente e talvez, já garantir alguns votos.

Se o povo quer, vamos! Foi ótimo, demos a volta olímpica lá, gritamos, pulamos, falaram merda pra caralho no megafone e coisas que não tinham a ver com mobilidade urbana (principalmente o rapaz do grêmio estudantil da IFBA) e voltamos com a saciação narcísica sanada.

Ficou acertado então, de ficarmos lá até às 17:30. OBA, que ótimo! Pelo menos algumas pessoas que não poderiam ficar ali, principalmente jovens que tinham que voltar pra casa mais cedo, poderia aprender algo novo, compartilhar ideias e tentar chegar à raiz do problema, pobre engano, fizemos o grupo muito tarde e o povo foi se dispersando.

Infelizmente nem tudo são flores, a maioria dos manifestantes não tinha lido um texto básico para aquilo tudo estar acontecendo, foi escrito pelo ativista Manolo (já conhecido pelos membros do #Ocupa) em 2011, traçando a trajetória histórica das manifestações na cidade que foi MUITO COMPARTILHADO dentro da convocação.

A roda de pessoas foi aberta, começaram a falar coisas óbvias e desnecessárias, quando finalmente o texto que gerou aquela manifestação começou a ser lido. É um texto grande, não precisava ser lido todo, confesso, o início já dava pra chocar e mostrar que não podemos nos limitar a fazer só aquilo.

O que me deixou triste, foi o descaso pelo que era mostrado ali. Pessoas inclusive que tiveram a oportunidade de ter lido esse texto antes, não leram e estavam achando aquilo tudo um saco, sem nem ao menos prestar atenção.

POSTURA
Qual é a postura que devemos ter? Agir sem pensar? Manifestar pra saciar o ego? Usar as manifestações pra socializar? Pra se autopromover? Estudar muito e se afastar do povo? NÃO, eu não desejo nada disso.

Não defendo a elitização e intelectualização do movimento, e agora não defendo a massificação com a horizontalidade, assim como, não defendo a união de grupos e pessoas que não sabemos o histórico nem as reais intenções... Mas como fazer tudo isso? Será que esse realmente é o caminho? O que vocês me dizem?

Como controlar a vontade rebelde, de alguns, pra numa situação como essa, onde estávamos sendo monitorados, não deixar revolta aflorar, chamar a atenção da polícia e evitar que os pacíficos paguem?

Para mim, o pacifismo é essencial, a violência só deveria acontecer no dia do embate, quando a maioria da população estivesse conscientizada, quebraríamos a porra toda e forçaríamos as coisas a serem do jeito que devem ser, se os opressores não cedessem, óbvio.

Será mesmo que essa opinião individual pode ser levada em consideração? Como fazer? Assumir a postura pacifista ou rebelde? Será que as pessoas não enxergam que existe um meio termo? Gandhi, Mandela ou Che Guevara? Eu fico com um pouco de cada, pra ser usado na hora certa, tentando não cometer os mesmos erros que eles cometeram, mas será que essa é a ideia Anon? Não tenho certeza disso, é algo muito abstrato que as pessoas transferem de si suas faltas individuais pra tornar aquilo o que na verdade elas querem, posso estar fazendo isso, ou não, e vocês?

Eu sei de uma coisa amigos, sem conhecimento não chegaremos a lugar nenhum.


Segunda-feira, 0‎4‎ de ‎junho‎ de ‎2012, às ‏‎00:46

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