Deus, mais uma vez, na minha vida.

Era um 7 de setembro. Bateu-me uma vontade inexplicável de ir à Ponta do Humaitá. Pensei em um grande amigo, não lembro quem ligou pra quem, mas combinamos de se ver. A filhinha dele acabara de nascer e ele estava perto do meu destino almejado.



Sair de Cajazeiras pra Cidade Baixa, em um dia chuvoso, é no mínimo intrigante; mas eu fui. Ver Leo Ramos e sua mais nova herdeira era um estímulo enorme, mas algo maior me esperava lá. Fui atraído e não sabia definir pelo quê.

Cheguei primeiro. Esperando Leo, comi um acarajé; contemplava a natureza de forma voraz. Apesar de chuvoso e nublado o dia estava lindo, inclusive fotografei e postei o momento com a legenda: “Eu vejo beleza em dia nublado”, segue aqui.

Após essa foto, caminhei um pouco até ser abordado por um rapaz. Tinha seus 1,70cm, negro, sandália, bermuda e uma camisa simples. Ele chegou até a mim e disse:

— Fique tranquilo, a faculdade que você tanto quer Deus vai te dar.

Minha testa franziu automaticamente e pensei: hã, como assim?

Fiquei alguns segundos sem reação, olhei pela tangente... Quase via tudo branco. Voltei a mim e tasquei o olhar em direção ao rapaz, respondendo timidamente:
— Tá bem. Balançando a cabeça com a boca aberta como quem quer comer mosca.

Como um bom cético que eu era. Curioso e estudioso de fenômenos mediúnicos; meu cérebro trabalhou ferozmente para refutar automaticamente aquela experiência sobrenatural.

Já aconteceu comigo antes: pensar em algo e por vibração e sintonia um espírito captar o meu pensamento, fazer o contato mediúnico e me aconselhar em não fazer o que eu planejava. Eu devia ter uns 12 anos, um espírito inferior amigo incorporou em minha mãe revelando, constrangendo e castrando minha recente e secreta vontade em experimentar cigarro.

Tomei ódio descomunal depois daquilo e vi que um desencarnado captar o pensamento de um encarnado por telepatia era possível de algum modo (há controvérsias).

Alguns médiuns se deixam levar pela vaidade e revelam coisas que não vão necessariamente acontecer, às vezes, pelo simples retorno energético provocado pela idolatria do místico e pela sensação de poder. Mas isso é outro papo.

Minha mente continuava trabalhando, pensava eu: “Não tenho cara de pré-vestibulando; ao contrário, diversas pessoas perguntam se eu já fiz ou faço alguma graduação. Também não estou pensando em vestibular, de onde esse cara tirou isso?”.

Quando pensei em perguntar se ele era da umbanda, candomblé ou kardecista, ele respondeu:

— Sou evangélico e Deus me pediu pra falar isso com você.

Faltou-me chão, senti vergonha, fiquei estupefato, quase via tudo branco de novo, retornei a consciência. Evangélico? Isso quebrou completamente as teorias refutatórias que corriam a 1000km/h na minha cabeça. Fiquei sem ter no que me apoiar, tive que baixar a guarda.

Comecei a analisar tudo de forma mais clara. O rapaz era um mensageiro de primeira viagem, inexperiente, estava nervoso porque não sabia se a mensagem realmente tinha base. Quando me viu mais receptivo ficou claramente feliz, relaxou e trocamos algumas palavras doces. O que eu poderia fazer? Agradecê-lo e, de algum modo, conversar com Deus através dele.

Depois do papo e do sublime aperto de mão que tivemos, fiquei eu com meus botões. Mais uma vez, outros turbilhões de pensamentos vieram à minha mente. Leo chegou, contei a experiência pra ele meio sem jeito – um pouco desacreditado ainda do que acabara de viver.

Conversamos a tarde inteira. Vida, planos e sonhos. Tivemos conversas espirituais e transcendentais, foi um dia ímpar, lembro como hoje, me sentia muito feliz, estava radiante. Já tinha até esquecido do aviso divino, então, o mesmo rapaz, chegando de mansinho, me abordou novamente:
— Olá, como você está com seu pai? Você está bem com ele?
— Tô sim, tô sim. Respondi por ato reflexo e levemente extasiado.
— Fique bem com ele, mas fique mesmo. Seu pai te ama. Deus pediu pra eu te falar isso também.
Fiquei sem palavras, acenei um sim com os olhos arregalados.
— Você acredita em anjo?
— Sim, acredito. Respondi com a mesma cara de espantado.
— Acredite, acredite mesmo em anjo... E foi embora.

PUTZ, COMO ASSIM?

Minha relação com meu pai era muito conturbada. Ficamos alguns anos sem se falar e tínhamos brigas feias e constantes. Todo esse processo deixou-me traumas dos quais eu vou tratar com um psicólogo este ano. Inclusive, naqueles dias, algumas lembranças vieram à tona e eu estava psicologicamente perturbado a ponto de estar atrapalhando meus estudos. Ou seja, era mais uma dádiva.

A declaração paterna me derrubou, controlei o choro; olhei pra Leo com os olhos arregalados e ele entendeu o que estava acontecendo. O rapaz-anjo foi embora, retomamos o final da conversa e voltamos pras nossas casas.

O que eu mais sentia naquele momento era vergonha e gratidão. Vergonha por ter sido um cético a ponto da espiritualidade planejar de forma irrefutável dentro dos meus conhecimentos e experiências aquela situação. Gratidão por ter sido contemplado por uma mensagem tão especial e única.

Aquilo não me fez estudar menos ou mais, mas me deu uma confiança imensurável em Deus e em seus planos e oportunidades.

O rapaz não disse quando Deus iria me dar o que prometeu nem qual era o curso que eu tanto queria. Depois de 9 anos afastado completamente dos assuntos de Ensino Médio e sem lembrar como fatorar ou o que era um número primo, fiz um ano de cursinho, estudei que nem um condenado e passei na UFBA em Engenharia Elétrica.

Antes de saber esse resultado contei pra alguns amigos. Era arriscado: e se eu não passar em nada? pensava, entretanto, realmente aconteceu. Vivi e não poderia ignorar. Agora, com o sucesso da mensagem e da “promessa paga”, divulgo essa experiência porque acredito que é importante refletirmos na existência de uma força maior que rege o universo.

Eu não tenho religião, frequento igreja católica, protestante, centro espírita e terreiro de candomblé. Sou espirituoso e acredito na reencarnação, é a minha verdade. Ela me faz entender que todos temos um papel na terra. Por mais pecadores e errantes que somos.

A cada segundo temos a oportunidade de recomeçar e fazer um novo final, e que, ainda, tem alguém lá em cima olhando por nós e esperando a oportunidade pra nos guiar e fortalecer, sempre respeitando o nosso livre-arbítrio, como aconteceu comigo. Se você chegou até aqui e compreende o que é isso, eu te peço de coração: se deixe guiar, mais.

Preciso retribuir esse presente, preciso ajudar as pessoas através dessa porta que foi aberta pra mim. Não estamos na terra de passagem ou pra brincar. Hoje eu enxergo que amar o próximo e deixar nossa marca pra humanidade é nossa obrigação. Toda ferramenta tem que ser usada pro bem, independente do credo. Vamos em busca disso?

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