Como sentir a morte? É digno sentir pelo outro?

Lembro-me da minha primeira morte, forte. Era 2001, 8ª série, 13 anos. O irmão de uma colega de classe veio a óbito, ele era 3ª ano. Foi uma tremenda comoção na escola.



Chorei, as lágrimas escorriam sem que eu soubesse o porquê, alguns julgavam a minha postura demasiada, mas, ainda assim, havia um controle por minha parte, se não houvesse, seria bem pior. A certeza da morte tinha mexido comigo em diversos momentos, e aquele, não obstante, marcou-me pra sempre.

Só conhecia o falecido de vista. Eu não era amigo, nem inimigo dele ou da minha colega de classe, nos dávamos bem; e não parava de pensar nela, na família, e, no que aconteceria depois de tudo. Tanto nesse plano, quanto no outro.

Os insensíveis acusaram-me de falso, hipócrita, chorão; queriam de mim uma força que eu não tive, nem deveria ter. Não me importei com os insultos, não me defendi nem devolvi. A minha dor era legítima, minha consciência me confortava, eu estava em paz, refletindo quanto a tudo.

As injúrias acometidas a mim causaram dúvidas genealógicas. Por que estava tendo aquela reação? Havia medo da morte? Em que ponto eu estava excedendo? Ou faltando? Dúvidas essas que me acompanharam durantes longos anos. As reflexões vieram e vêm mais lúcidas na medida em que o tempo passa.

Após bastante estudo e observações práticas sobre o tema, acredito na vida após a morte e na lei da reencarnação. Estamos aqui para evoluir e tudo é passageiro, aliás, graças a isso, o novo toma o velho e as mudanças acontecem; a vida é consequência da morte e finalmente me entendi com ela.

Contudo, ainda sinto a perda de alguém; de forma diferente, mas sinto. Dentro dessa lei soberana da natureza, onde existe uma causa superior e positiva em tudo, ainda assim, me desanimo e sou tomado pela empatia. Seria isso um erro?

Quem pode recriminar as sensações do outro? Que peso subjetivo eu devo dar em cada experiência assistida? É o meu peso, o meu sentimento. Ninguém deve julgar ninguém por isso, por mais hipócrita que pareça, pois, a consciência é o juiz de cada um, não o outro, não você.

"Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todos são parte do continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, o Continente ficará diminuído, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti" (John Donne)

2 comentários:

  1. Muito lindo, cara. Lindo mesmo.
    Obrigado pela oportunidade de ler isto.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado você Witalo.

      Fico feliz em ter sido útil pra alguém, ainda mais, esse alguém sendo você, que, em seus textos, é sempre, tão útil pra mim.

      Excluir