"Quando a periferia será o lugar certo, na hora certa?"

Recentemente tomei um baque daqueles...
Apesar de ter crescido num bairro pobre e periférico, ser "branco" me ajudou.

Só fui humilhado pela polícia uma vez. Até hoje meus testículos doem quando lembro do baculejo. Muito diferente de amigos que tomaram tapa no peito, no ouvido e na cara... saí no lucro.

Não vai demorar pra ter uma chacina onde cresci. Outro dia, um policial trocou tiros com traficantes d'uma boca de fumo que fica do lado do prédio de minha mãe. Com medo do meu irmão sobrar numa dessas, ele foi morar com meu pai.

Mas o baque não foi com eles, foi com um amigo querido, ativista dos bons - um cara excepcional, querido por todos. Um certo domingo ele apareceu no Raul Hacker Club dizendo que ia dormir por lá, achei estranho e perguntei:
– Qual foi, vei?
– Mataram um policial lá na rua e já tá muito tarde pr'eu voltar pra lá. Preto, de noite, sabe como é né...

Não, não sei. E isso me fode, me dói na alma, me baqueia.

Por mais que minha situação também seja fudida, não se compara a isso. Posso tomar tiro por inventar de chegar tarde na casa de mãe e/ou ser confundido com um policial - como quase acontecia um dia desses. Mas não seria morto pelo Estado, voltando pra casa, com um saco de pão; ou um caderno embaixo do braço.

Aí esse magnífico texto me toca quando pergunta:

Quando a periferia será o lugar certo, na hora certa?


"As palavras silenciam os mortos para além da morte. E calam os vivos, mesmo quando eles pensam gritar."
Por favor, não vamos nos calar. 


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